Entre os anos 11000 a.C e 8000 a.C, o grupo de pessoas ao qual eu pertenço, chamado de caçador-coletor, já habitava o território que hoje vocês chamam de Paraná. Nós chegamos aqui durante uma época em que houve significativo aumento da temperatura e da umidade na Terra, proliferação de espécies de animais e expansão das matas. Desse modo, nós nos adaptamos a uma nova dieta, baseada na coleta e na pesca. Nós deixamos muitos vestígios por aqui, principalmente por causa do uso de instrumentos feitos a partir de rochas. Esses instrumentos são bastante diferentes, o que mostra a diversidade das culturas presentes no território. No Paraná, duas tradições de caçadores-coletores se desenvolveram: a tradição Umbu e a tradição Humaitá. Vamos conhecê-las?
Nessa tradição, construíamos abrigos temporários a céu aberto ou usávamos formações naturais (abrigos debaixo de rochas) para nossa proteção. Os vestígios deixados indicam como procurávamos por regiões menos arborizadas, localizadas a altitudes entre 400 e 500 metros, próximas a rios, riachos, arroios e lagos. Na tradição Umbu, nós caçávamos animais de diversos tamanhos e pescávamos usando anzóis de ossos, além de coletarmos vegetais da natureza, principalmente cocos de palmeira. Os vestígios que deixamos mostram que usávamos diferentes tipos de rochas para a produção de instrumentos, como quartzo e basalto. Entre os artefatos mais característicos estão as pontas de projétil (menores) e as pontas de lança (maiores). Outros instrumentos encontrados são: raspadores, furadores, facas e trituradores (usados para preparar a tinta utilizada em pinturas rupestres).
Na tradição Humaitá, nós, caçadores e coletores, construíamos assentamentos temporários, multifuncionais, localizados a céu aberto, por volta de 6.000 a.C. Inicialmente a tradição Umbu e a Humaitá dividiam terreno, mas, aos poucos, a região sul do Brasil foi dominada pela Humaitá. Com essa tradição, nós nos instalávamos tanto nas matas ao redor dos rios quanto em locais mais altos, bons ambientes para caça e coleta de vegetais. Os vestígios deixados durante essa tradição mostram como alternávamos nessa época nossa alimentação durante as estações e migrávamos em busca de alimentos. Também usávamos ferramentas mais sofisticadas e maiores, com diversas funções, como machados para cortar madeira e cavadores para escavar o solo. Uma das ferramentas tinha formato de bumerangue e possuía de 10 a 20 centímetros de comprimento.