Os tropeiros, além de transportar o gado e muares entre o Sul e o Sudeste, na rota entre as cidades de Viamão e Sorocaba, compravam e vendiam animais e outras mercadorias. Eles também eram responsáveis por levar alimentos, ferramentas, utensílios domésticos, roupas e outros objetos de uso pessoal entre os povoados dos sertões pelos quais eles passavam durante suas jornadas. Por isso, foram importantes no processo de integração comercial e cultural. As tropas eram constituídas do tropeiro chefe (dono da tropa), o camarada (que fazia ligação entre o dono e o fazendeiro), o cozinheiro e o aprendiz. Os Campos Gerais possuíam vários pontos de pouso demarcados onde esses homens se reuniam para passar a noite, descansar e deixar os animais descansar. As jornadas dos tropeiros fizeram deles pessoas muito importantes para a troca e miscigenação cultural entre as regiões. Eles deixaram marcas no linguajar e expressões populares. Você sabia que expressões como “dar com os burros n’água”, “cor de burro quando foge”, “empacar”, “forte pra burro” e “enfiar o pé na jaca” são de origem tropeira? Elas estão relacionadas com a rotina de vida e trabalho desses transportadores e comerciantes.
A culinária tropeira também influenciou muitas cidades por onde eles passavam e até hoje vários pratos típicos desses locais têm elementos da alimentação dos tropeiros. A comida desses homens era feita para resistir a longas viagens, pois eles atravessavam grandes territórios, do Rio Grande do Sul até o Sudeste. Os alimentos eram duráveis, secos, fáceis de carregar e que não estavam, geralmente, sujeitos a ação do tempo. Entre eles estavam o feijão, toucinho, fubá, farinha, café e carne salgada.
Por onde passavam, os tropeiros pegavam um pouco dos hábitos regionais e adotavam em suas viagens e na culinária. Também buscavam alimentos nas localidades, como outros tipos de carne e linguiça, para ter alimentação mais variada. Por outro lado, também deixavam nesses locais alimentos para serem vendidos. Dentro da tropa, havia um responsável pela comida, ele era conhecido como madrinheiro.
Um dos principais alimentos era o feijão tropeiro, que tinha na composição o feijão, farinha de trigo ou de mandioca, carne seca e linguiça. Outro alimento bastante consumido por eles e que até hoje está presente em nossa culinária é o charque, uma carne salpicada com sal e deixada ao sol. Era uma carne transportada do Sul para outras regiões do Brasil, por causa de sua alta capacidade de conservação. Mesmo que os tropeiros tenham ajudado a difundir e a misturar a alimentação, é importante dizer que muitos dos alimentos por eles consumidos estavam na culinária influenciada pelos negros, como a farinha de milho, o feijão preto e a própria carne seca. Alguns utensílios auxiliavam na cozinha dos tropeiros: caldeirão para cozinhar o feijão, caçarola para o arroz, balde para água, a chaleira para fazer café e um lampião para iluminar o local. O alimento era cozido em um fogão chamado de trempe, que era um tripé para servir de apoio às panelas.