Faço parte do povo Kaingang, que desde a chegada dos portugueses e espanhóis no Paraná, tem lutado para manter nosso território. Travamos muitas batalhas por causa das terras e somos símbolo de resistência indígena na região contra exploradores. No século XX, entretanto, ações de alguns governos resultaram na demarcação de cinco reservas indígena na bacia do Rio Tibagi. Uma delas é a reserva de Apucaraninha, localizada no município de Tamarana. A terra indígena foi demarcada no ano de 1900 e inicialmente foi chamada de Posto Indígena Xavier da Silva, nome do governador que assinou o decreto que instituiu a área. Ainda assim, perdemos muito do que era nossa terra: dos 80 mil hectares (ha), Apucaraninha hoje tem 5.574ha. Essa redução aconteceu depois de um acordo entre o governo do Estado do Paraná e o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), em 1949.
O meu povo fala a língua Kaingang, que faz parte das famílias linguísticas Macro-Jê e Jê-Kaingang. Além disso, temos cinco dialetos: Kaingang Paraná, Central, Sudoeste, Sudeste e de São Paulo. Geralmente, os adultos de mais de 40 anos falam também o português. A cultura do meu povo se desenvolveu onde hoje estão as regiões Sudeste e Sul do Brasil, além da província de Misiones, na Argentina. Os Kaingang atualmente vivem em diversas terras indígenas demarcadas, mas isso corresponde a um território muito menor do que já ocuparam desde sua chegada na região.
A presença do nosso povo na região veio muito antes da chegada dos portugueses e espanhóis. Mesmo assim, durante expedições realizadas pelos exploradores na época da colonização, no império e na república, falou-se muito na necessidade de ocupar nossas terras, pois seriam vazios demográficos. Com isso, eles não consideraram a nossa presença na região. No Museu de Londrina, está exposto um cartaz com a frase “Falaram que aqui era um deserto, mas estamos vivos e estamos aqui”, em kaingang e em português, que é uma forma de protesto do nosso povo contra esse tipo de pensamento.
Após muita luta e resistência, os povos indígenas, incluindo o qual eu faço parte, conseguiram o reconhecimento e demarcação de dezenas de áreas indígenas em todo o estado do Paraná. Além de Apucaraninha, que fica dentro do território do município de Tamarana, nas proximidades da Bacia do Tibagi existem ainda as seguintes áreas indígenas: Queimadas, Tibagy/Mococa, São Jerônimo, Barão de Antonina, Pinhalzinho, Laranjinha e Ywy Porã. Nelas, vivem cerca de três mil indígenas. No território da cidade de Londrina também são encontradas famílias indígenas e agrupamentos dispersos, segundo o Instituto de Terras, Cartografias e Geociências do Paraná. Os Kaingang são os povos mais numerosos no entorno da bacia, mas também encontramos etnias Xokleng, Guarani e Xetá.