Saint-Hilaire, viajante francês que passou pela região dos Campos Gerais no início do século XIX registrou suas impressões sobre a vida nas fazendas e sobre a natureza que observou ao longo da viagem. Além de narrar sobre a criação de gado e o tratamento aos animais, também registrou em sua obra “Viagem a Curitiba e província de Santa Catarina” sobre o momento que cruzou o rio Tibagi, logo depois de ter deixado uma importante fazenda associada a formação da vila de Tibagi e conhecer seu dono: a fazenda Fortaleza e o paulista José Félix. Vamos ler o que escreveu sobre o rio Tibagi em 1820:
“À tardinha, dei um passeio de canoa até a barra do Iapó, que, como já disse, se lança no Tibagi. No ponto onde se encontram, esses dois rios são muito profundos e correm, segundo me garantiram, num leito de pedras. Depois que recebe as águas do rio Iapó, o Tibagi deve ter mais ou menos a mesma largura dos nossos rios de quarta ordem; ali mal se percebe o fluir de suas águas. Como o Iapó, ele é orlado de árvores e arbustos, acima dos quais se eleva a imponente araucária (...).
O Rio Tibagi, cujo nome deriva provavelmente das palavras da língua geral “tyba”, posto de comércio, e “gy”, machado, é um dos afluentes do rio Paranapanema. Entre todos os rios dos Campos Gerais que contém ouro e diamantes, o Tibagi é considerado o mais rico; existem mesmo diamantes nas terras que o circundam, especialmente – segundo me disseram – a algumas centenas de passos da vila que tem o seu nome. Parece que nos tempos em que os paulistas varavam os sertões buscando ouro e caçando índios, alguns bandos deles que chegaram até aquela região encontraram ali diamantes. O governo foi informado dessa descoberta e, para impedir que sua exploração caísse nas mãos de particulares, decidiu colocar uma guarda na região. Mais tarde a guarda foi suprimida, e o contrabando de diamantes começou a ser feito não só por alguns habitantes do lugar como também garimpeiros que vinham de fora (...). Nessa ocasião, José Felix, o meu hospedeiro de Fortaleza, informou ao governo do que se passava, tendo sido encarregado de fazer explorações no Rio Tibagi, as quais – segundo me disseram - tiveram um resultado muito satisfatório.
Organizou-se uma companhia de milícias, da qual José Felix se tornou comandante, e ele recebeu ordens de empregar os seus homens na perseguição aos garimpeiros. Parece que à época da minha viagem unicamente os habitantes da vila de Tibagi se ocupavam com esse trabalho clandestino, lavando ora algumas bateias de cascalho recolhido aos caldeirões dos córregos, ora um pouco da terra tirada nos locais onde eles sabiam que existiam diamantes”. Pg. 46-47
1.Você conhece o rio Tibagi? Se sim, o que o viajante francês narrou sobre a paisagem do século XIX é semelhante ao que você observa nos dias de hoje? Faça o relato do que você conhece.
2.Segundo o autor, como era a exploração de diamante no rio Tibagi? Por que será que apenas José Felix tinha autorização para a exploração?
3.Agora observe as imagens a seguir: A primeira é um relevo que está na praça central da cidade de Tibagi, e que conta sobre a formação da cidade. A segunda é uma reconstituição de um acampamento de garimpeiros e que se encontra no Museu Histórico Edmundo Mercer, também na cidade de Tibagi. Agora, de acordo com a descrição de Saint-Hilaire e ao visualizar as fotos, converse com um colega e escreva quais são as suas impressões sobre a mineração para a formação da cidade de Tibagi. Será que a descrição acima mostra a importância que a mineração do diamante teve para a população da cidade e sua relação com o rio? Ou as imagens mostram que a mineração é um aspecto importante para a formação da população da cidade? Reflita sobre os espaços em que as imagens estão presentes na cidade.