Nós, jesuítas, éramos padres da Companhia de Jesus que circulavam na América desde o início da colonização europeia. Tínhamos o objetivo de expandir o cristianismo pelo Novo Mundo. Os jesuítas Ortega e Fields, em 1588, foram os primeiros a passar pela Província Del Guairá. Segundo eles, na região haveria cerca de 200 mil indígenas para serem convertidos. O trabalho de conversão dos indígenas, em especial dos Guaranis, que dominavam boa parte da região, foi reconhecido pela Coroa da Espanha como importante para a entrada dos espanhóis. Houve resistência dos indígenas, que não aceitavam a nossa presença, o que fez com que nos aliássemos aos caciques para a evangelização. Buscamos aprender a língua dos povos para facilitar o contato, além de trabalharmos sempre ao lado dos indígenas mais fiéis.
Esses povoados tinham organização bem definida: na Província Del Guairá, todas as reduções eram administradas por um padre, que obedecia ao bispo do Paraguai. Caciques e seus filhos também poderiam participar da administração. Esse tipo de administração, assim como em toda a região jesuítica, acontecia nas reduções que ficavam na bacia do Rio Tibagi. Eram pequenos vilarejos: no centro ficava a igreja, de um lado o cemitério e de outro a casa paroquial, e uma horta em seus fundos. Havia sempre uma praça, onde ficava a imagem de um santo patrono ou uma cruz. Nos arredores ficavam as casas, em formato quadrado. As reduções viviam da agricultura, da qual os indígenas poderiam participar individualmente ou coletivamente. Fazia parte da conversão dos indígenas, além de aceitarem o cristianismo como religião, aprender novos ofícios (ou seja, profissões) para se afastar dos costumes tradicionais dos indígenas, além de vestir roupas e de as crianças estudarem.
Os povoados comandados por nós, jesuítas, foram dizimados pelos bandeirantes, grupos de paulistas que saíam em direção ao interior do que se tornaria o Brasil em busca de ouro e de indígenas, que eram vendidos em São Paulo e no Rio de Janeiro como escravos. No começo das expedições dos bandeirantes, eles atacavam aldeias indígenas sem padres jesuítas, mas aos poucos passaram a atacar as reduções. Essas ações dos bandeirantes aumentaram a partir de 1628 e chegaram até as margens do Rio Tibagi, perto de onde fica hoje a cidade de Ortigueira. Os indígenas ou fugiam para a mata ou tentavam ir para outras reduções, enquanto nós padres tentávamos enfrentar os bandeirantes para evitar que os indígenas se afastassem da fé católica. Nas campanhas feitas pelo bandeirante Raposo Tavares no Guairá, 15 mil índios foram mortos e 60 mil feitos prisioneiros. As cidades fundadas pela Coroa da Espanha foram devastadas.