O território que hoje leva o nome de Paraná estava dividido entre portugueses e espanhóis na época da dominação européia na América. Com o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, Portugal ficou com a parte mais a Leste do Brasil, enquanto a Espanha dominou as terras a Oeste. Mas havia bastante incerteza sobre o local onde a linha de Tordesilhas terminava: para os portugueses, seus domínios iriam até Laguna, em Santa Catarina, enquanto para os espanhóis, a linha terminava em Paranaguá, no Paraná. Isso levou expedições dos dois países a circularem pelo território que hoje corresponde ao Paraná. Algumas expedições ficaram bastante conhecidas e passaram pelo vale do Rio Tibagi. Uma delas foi liderada por mim. Vamos conhecer um pouco mais dessa parte da história do rio.
Os primeiros relatos de viajantes europeus nos arredores da Bacia do Rio Tibagi são do século XVI. Nós transitamos pela região para conhecer o espaço do novo território. Em 1516, chegaram os espanhóis da expedição de Solis e em 1524 foi a vez de Aleixo Garcia passar pela região. A expedição mais conhecida foi a que eu, Álvar Núñez Cabeza de Vaca, liderei em direção à cidade de Assunção, que hoje é a capital do Paraguai. A expedição subiu o Rio Iguaçu, seguiu por terra o curso do Tibagi e, no encontro com o Iapó, os espanhóis foram para o Oeste. A passagem pelo Rio Tibagi foi difícil, por causa da força da correnteza. Naquela época, quase todo o território do Paraná era habitado e havia divisão política entre os povos indígenas. Para chegar ao Oeste, a expedição contou com a ajuda dos Guaranis, o que consistia em uma estratégia dos indígenas que podiam aceitar ou não dar ajuda a nós espanhóis. Por isso, alguns conflitos aconteceram entre exploradores e indígenas.
A maior parte do que viria a ser o estado do Paraná estava sob domínio espanhol e a Coroa Espanhola começou a colonização somente na década de 1550. O vale do Rio Tibagi delimitava o que era chamada de Província Del Guairá (entre os rios Tibagi e Paraná, de leste a oeste) e entre os rios Paranapanema e Iguaçu, de norte a sul). Com a colonização, grupos ou comunidades inteiras de indígenas passaram a ser explorados por nós, colonos, no regime conhecido como “encomienda”, uma forma de trabalho compulsório. Esses povos resistiram muito à exploração e travavam levantes contra nós, os espanhóis. Com isso, o governador do Paraguai (que era responsável pela província), Hernando Arias Saavedra, propôs ao então governante espanhol, rei Felipe III, que os indígenas fossem pacificados e convertidos pelos padres da Companhia de Jesus, para facilitar a exploração.
Como os portugueses insistiam nas expedições na região, principalmente após a chegada de Martim Afonso de Souza ao território que se tornaria o Brasil, nós espanhóis fundamos três cidades na Província Del Guairá: Ontiveiros e Ciudad Real Del Guairá, próximas ao Rio Paraná, e Villa Rica Del Espiritu Santo, perto do Rio Piquiri. Com o início das atividades da Companhia de Jesus, várias reduções jesuíticas foram instaladas na província, algumas delas ao longo da Bacia do Rio Tibagi: São José (em 1628), São Francisco Xavier (1625), Encarnación (1626) e São Miguel (1628). Vamos conhecer como eram organizadas as reduções jesuíticas, o trabalho missionário e a relação com os indígenas com nosso próximo personagem, o Jesuíta Montoya.